4/13/2016

Estação Cocal

Schahin diz que propôs ao PT quitar empréstimo em troca de contrato

Salim Schahin, delator da Lava Jato, foi interrogado nesta quarta-feira (13).
Ele disse que contrato com a Petrobras serviu como pagamento de dívida.

Fernando CastroDo G1 PR
O delator da Operação Lava Jato Salim Taufic Schahin afirmou que foi ele quem propôs a João Vaccari Neto a quitação de empréstimo de R$ 12 milhões do PT através da assinatura de um contrato com a Petrobras. Ele foi interrogado nesta quarta-feira (13) pelo juiz Sérgio Moro como réu em ação da Lava Jato que tramita na primeira instância da Justiça Federal.
O caso teve início em 2004. Segundo Schahin, Bumlai procurou o banco pedindo o empréstimo de R$ 12 milhões, e relatou que repassaria o dinheiro ao PT. Schahin disse que ficou preocupado com a situação, pois não gostava da ideia de conceder valores altos a pessoas físicas e interpostas a partido político.Sócio do Grupo Schahin, Salim detalhou a participação dos ex-tesoureiros do PT Vaccari e Delúbio Soares na negociação do empréstimo. Ele também confirmou a versão do pecuarista José Carlos Bumlai, que assumiu ter agido como interposto do PT para obter o empréstimo junto ao Banco Schahin.
“A gente tinha uma série de empresas em diversas áreas da economia brasileira, e nós achamos que talvez fosse importante se aproximar do partido que estava no governo. Ponderamos e fomos pra frente com empréstimo. Eu estava intranquilo com uma pessoa representando PT, achava aquilo muito esquisito”, relatou ao juiz.
Para resolver o impasse, Delúbio Soares compareceu na reunião seguinte e corroborou a versão de que os valores seriam para a legenda, o que convenceu Schahin a aceitar o negócio. Schahin relatou ainda que no mesmo período recebeu uma ligação do então ministro chefe da Casa Civil José Dirceu. Embora o assunto não tenha sido mencionado, Schahin disse ter “entendido o recado”, ou seja, que Dirceu estava avaliando o negócio.
De acordo com Schahin, a intenção do grupo era de que o empréstimo fosse quitado no período mais breve possível, mas isso não ocorreu. Ao ser cobrado, Bumlai dizia apenas que o PT era o responsável pelo empréstimo, segundo o delator. Assim, a cobrança passou a ser feita com Delúbio Soares, que chegou a levar o publicitário Marcos Valério a uma reunião.
“O Delúbio veio com o Marcos Valério dizendo que ele já estava prestando serviços ao PT  e iria ajudar a pagar a dívida. Eu fiquei feliz”, relatou Schahin. Assim mesmo, disse, o empréstimo seguiu sem quitação. Pouco depois Delúbio Soares acabou envolvido no escândalo do mensalão e foi substituído nas negociações por João Vaccari Neto.
Contrato
Foi por volta de 2006 que o Grupo Schahin soube que a Petrobras havia encomendado em navio estaleiro. O grupo já tinha experiência na área desde o início dos anos 1990, segundo o delator. “Em uma das conversas com Vaccari eu disse: Olha, nós temos interesse na operação desse navio, pedimos apoio do partido e apresentei as credenciais da empresa”, disse Salim.

Vaccari respondeu que levaria a questão ao partido e, quando retornou, disse que o negócio poderia ser feito se o empréstimo do Bumlai fosse quitado. Com a anuência das partes, Schahin foi até a Petrobras e tratou do assunto com o então diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró.
Uma semana depois eles trataram com o gerente da área Eduardo Musa, que também sinalizou positivamente para a negociação. O empréstimo acabou sendo quitado dias antes da assinatura definitiva do contrato da Schahin com a Petrobras.
Lula
O nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi citado duas vezes no depoimento. Questionado pelo juiz, Salim disse que o irmão e sócio Milton Schahin relatou a ele ter ouvido do filho, Fernando Schahin, que o negócio havia sido “abençoado por Lula”. Fernando Schahin era estruturador da área financeira do grupo.

Em outro momento, Salim Schahin disse que, em uma reunião, João Vaccari Neto falou que Lula “estava a par” da negociação”.
Eduardo Musa
O ex-gerente da Área Internacional, Eduardo Vaz Musa, também foi interrogado nesta quarta. Ele voltou a falar sobre a contratação do navio-sonda Vitória 1000. Ele explicou que o equipamento foi adquirido pela Petrobras para ser operado pela Schahin Engenharia, braço do Grupo Schahin. "Houve uma conversa comigo, dizendo que essa segunda sonda seria contratada para ser operada pela Schahin", afirmou.

Musa explicou que Nestor Cerveró e o gerente-executivo da área internacional da Petrobras, Luis Carlos Moreira, desde o começo do processo para a contratação da Schahin, disseram que havia uma necessidade para que a empresa fosse a escolhida. "O que me foi colocado, tanto pelo Moreira, quanto pelo Nestor é que seria por um acerto de uma dívida do PT com o Banco Schahin", disse.

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