|
Entrada do condomínio onde Bolsonaro tem casa, na Barra da Tijuca(foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo) |
O porteiro do condomínio
Vivendas da Barra, onde tem casa o presidente Jair Bolsonaro, recuou da versão
dada em outubro passado, na qual ligava o nome do presidente Jair Bolsonaro ao
assassinato da vereadora Marielle Franco. A informação é do colunista do jornal
O Globo Lauro Jardim.
O porteiro foi ouvido
novamente pela Polícia Federal nessa terça-feira (19/11), no inquérito aberto
por ordem do ministro da Justiça, Sergio Moro, com o objetivo de apurar a
"tentativa de envolvimento indevido" do nome de Bolsonaro nas
investigações sobre o crime.
A investigação teve início
após reportagem da TV Globo mostrar que um homem chamado Elcio (que seria Elcio
Queiroz, um dos acusados pela execução de Marielle) deu entrada no condomínio
Vivendas da Barra em 14 de março de 2018 (dia do crime) dirigindo um Renault
Logan prata.
Segundo os documentos
obtidos pela Rede Globo, o porteiro teria informado que Elcio pediu para ir à
casa 58, de Bolsonaro. O porteiro afirmou, ainda, ter confirmado a entrada por
interfone com o "seu Jair".
O novo depoimento do
porteiro está sob sigilo e não foi comentado pela Polícia Federal. Segundo o
jornal O Globo, no entanto, ele teria afirmado agora que anotou errado o número
da casa à qual Elcio ia. Ele também não teria reafirmado que foi Bolsonaro quem
deu a autorização para que o suspeito entrasse no condomínio.
Inquérito
da PF
A repercussão do caso levou
Moro a solicitar, via Procuradoria-Geral da República, a abertura de um
inquérito na Polícia Federal para apurar o depoimento do porteiro.
Segundo o ministro, há
"inconsistências" no depoimento do funcionário, o que poderia
classificar o ato como "crimes de obstrução à Justiça, falso testemunho ou
denunciação caluniosa".
Aras aceitou o pedido de Moro e enviou o ofício ao Ministério Público Federal
do Rio de Janeiro, que solicitou a abertura das investigações no dia 06. No mesmo
dia, a Polícia Federal abriu o inquérito.
Perícia
questionada
No dia seguinte à citação do
nome de Bolsonaro no caso, o Ministério Público do Rio de Janeiro solicitou
perícia nos áudios, feita em menos de duas horas e meia.
Foi a partir desta análise
que promotoras do caso sustentaram a tese de que o porteiro mentiu em
depoimento, o que motivou a abertura do inquérito contra o funcionário do
Vivendas.
O Ministério Público afirma
que os áudios não foram editados, nem adulterados, mas perícia é questionada
por especialistas. Segundo eles, não houve tempo suficiente para uma análise
aprofundada das provas e ressaltam que, como os computadores do condomínio não
foram avaliados, não é possível saber se algum áudio foi suprimido ou renomeado
de forma a enganar os investigadores.
O vereador Carlos Bolsonaro
(PSC-RJ), filho do presidente, exibiu nas redes sociais gravações alegadamente
obtidas com o síndico do Vivendas da Barra. O próprio presidente chegou a
declarar que havia pego os áudios antes que fossem "adulterados". A
declaração provocou questionamentos sobre suposta obstrução de justiça.
Federalização
Em setembro, a então a
procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu que o caso fosse conduzido
em âmbito federal, o que será analisado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ)
até o fim deste ano. Foi um dos últimos atos de Raquel no cargo.
A defesa de Lessa e Queiroz,
inclusive, utilizam a manifestação de Raquel para pedir a suspensão do
processo, alegando falhas na investigação e obstrução por parte da Polícia
Civil.
A federalização do caso, no
entanto, enfrenta resistências do Ministério Público do Rio, que comanda as
investigações. Se aprovada, o caso deixará as mãos da promotoria estadual.
Em entrevista ao jornal O
Estado de S. Paulo, o ex-ministro da Defesa e Segurança Pública na gestão
Michel Temer, Raul Jungmann, classificou como "injustificável" a ação
do Ministério Público do Rio em barrar a federalização.
O Ministério Público
repudiou as declarações do ex-ministro e afirmou que o acionou formalmente para
dar explicações à Justiça.
Com informações da Agência Estado