Apesar do fechamento da fronteira
do Brasil com a Venezuela, um grupo de brasileiros conseguiu voltar para
Roraima.
Era quase meia-noite quando
os carros que traziam 30 brasileiros de volta pararam na linha de fronteira. Um
coronel do Exército brasileiro agradeceu à escolta venezuelana e abriu passagem
para os carros.
Foi o fim de uma longa e
difícil negociação conduzida pelo Itamaraty e pelo Ministério da Defesa do
Brasil. Outros 29 brasileiros podem chegar ainda nesta segunda-feira (25).
“Graças a Deus não chegamos
a enfrentar, não chegamos a nos deparar com nenhum confronto entre os grupos
que estão em disputa na Venezuela. Mas a gente fica sempre com aquele receio de
como é que ia se dar a questão do nosso regresso”, disse o delegado da Polícia
Federal Marco de Aguiar Ribeiro.
Parte do grupo teve de
atravessar a pé a cidade de Santa Elena de Uairén, a 17 km da fronteira com o
Brasil, no sábado (23), dia em que estouraram os conflitos mais violentos.
“Depois de sete dias
caminhando, a gente só queria descansar, e a gente andou rapidão, todo mundo
olhando para baixo, com mochila, carregando e todo mundo que estava passando
falava vai para o outro lado, a coisa está feia, está feia, está tendo tiro”, contou
a turista Patrícia.
Soelma, que foi buscar a mãe
que tinha feito uma cirurgia na Venezuela, contou que viveu horas de desespero:
“Eles não estão usando bala de borracha. Eles estão usando bala mesmo.
Metralhadora mesmo, não tem bala de borracha, é metralhadora”.
A mãe dela diz que rezou
para manter as forças quando foi revistada pelos soldados da Guarda Nacional,
pouco antes de sair da Venezuela: “Eu passei mal, mas eu criei uma coragem,
quando eu cheguei no meio daqueles guardas eu olhei assim, Deus é maior, rezei
o Pai Nosso umas seis vezes”, contou a comerciante Maria Evalda Ferreira.
Desde que estouraram os
conflitos na região da fronteira, sete soldados da Guarda da Venezuela já
desertaram, entraram no Brasil pela fronteira e pediram refúgio. Na fronteira
da Colômbia, seriam ao menos 167.
Nesta segunda-feira, um
deles disse pretende viajar até a Colômbia e se juntar às forças que apoiam o
autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó.
Nesta segunda, na fronteira
com o Brasil, não houve nenhum confronto entre manifestantes e soldados
venezuelanos. A estratégia definida pelo governo brasileiro de estabelecer uma
linha de segurança para impedir que os manifestantes avancem contra os soldados
venezuelanos, funcionou. Mas, os venezuelanos que protestaram no domingo (24) e
no sábado (23) não saíram do local. Passaram o dia olhando do alto do morro a
movimentação do outro lado da fronteira.
Enquanto isso, o
carregamento de ajuda humanitária do governo brasileiro que está em Pacaraima
desde sábado continua do lado brasileiro da fronteira.
A fronteira entre o Brasil e
a Venezuela permanece fechada. Homens da Força Nacional e policiais rodoviários
fazem a segurança na faixa que divide a fronteira entre os dois países.
O Batalhão de Choque da Guarda
Nacional Bolivariana ficou a postos. Tudo porque, mais cedo, venezuelanos se
prepararam para retirar a bandeira da Venezuela e hastear outra em que estava
escrito “paz e liberdade”.
Em Boa Vista, 22
venezuelanos feridos em conflitos em Santa Elena de Uairén permanecem
internados no Hospital Geral de Roraima; quatro já tiveram alta.
Nesta segunda-feira (25) foi
publicado o decreto de calamidade na saúde. A medida vale por 90 dias. O
governo do estado disse que não tem estrutura para receber mais pacientes e nem
insumos. O governo espera comprar de forma emergencial remédios e também
materiais para os hospitais na capital, Boa Vista, e de Pacaraima
Fonte: Jornal Nacional