Barack Obama em evento em São Paulo. EVERTON ROSA |
Em sua terceira visita ao
Brasil, Obama continua colecionando um número grande de fãs e é recebido como
estrela. A fila para participar da palestra, que começou às 13h, dava voltas já
às 9h. E os ingressos da área vipcustavam até 2.500 reais. Bastante
carismático, ele começou o discurso dando boa tarde em português, reclamou do trânsito
de São Paulo, contou que tinha encontrado Pelé na parte da manhã e revelou que
tocava músicas de Tom Jobim para a esposa Michelle.
Diante de uma plateia de
10.000 pessoas —a maioria empresários, que ovacionaram todo o tempo o
ex-presidente— , Obama disse que é necessário criar um sistema educacional que
prepare crianças e jovens para o pensamento crítico. “As pessoas querem que os
fatos se encaixem nas opiniões delas”, disse. “Acho que o mais valioso da
educação é aprender a habilidade de analisar a realidade, mesmo quando isso é
desconfortável e prova que aquilo que eu achava ser verdade está errado.”
O democrata elogiou ainda o
poder que um professor tem de dar confiança a uma criança e criticou como a
categoria é pouco reconhecida em alguns países. "Nos Estados Unidos, os
professores também não são valorizados, em parte porque a maioria deles é
mulher", disse o ex-presidente, que defendeu o modelo da Finlândia, onde a
categoria é valorizada e "ganha tão bem quanto um médico". Apesar de
discursar muitos minutos sobre a educação, Obama não fez nenhuma menção aos
protestos desta quinta no Brasil e nem sobre o Governo de Jair Bolsonaro.
"Eu sempre falo, e nem
sempre me ouvem, que os empresários deveriam ficar felizes em pagar
impostos", afirmou ao defender que é essa arrecadação que permite a
implementação de políticas públicas.
O ex-mandatário também
defendeu uma maior inclusão de mulheres e afro brasileiros na política e na
sociedade. "Se afro brasileiros não são incluídos, o país está
desperdiçando talento. Se mulheres não estão incluídas, estão desperdiçando
talento", afirmou. Segundo Obama, ele sempre fez questão de ter mulheres
em sua equipe. "Se sua organização só tem homens brancos que parecem todos
iguais, você está perdendo algo".
O ex-presidente contou que,
após deixar a Casa Branca, decidiu focar seu trabalho em preparar novos líderes
pelo mundo. “Avaliei que meu maior impacto seria o de inspirar outras pessoas a
se envolverem e a encorajar as pessoas para que se engajem a fazer a
diferença”, diz.
Dinheiro não traz felicidade
O americano confessou que,
apesar de atualmente ter muito mais dinheiro do que ao longo de grande parte da
sua vida, sua felicidade não está relacionada a esse tipo de riqueza. Obama
criticou ainda que a acumulação de dinheiro e de bens seja hoje a medida para
avaliar o sucesso de uma pessoa. “Nós ensinamos a nós mesmos que a nossa medida
de sucesso é esta: quanto mais nós temos e quando mais nos apegamos a isso,
melhor devemos ser. Mais alto é o nosso status”, disse. Para ele, essa
forma de raciocínio pode explicar um pouco porque no Brasil, nos EUA e em
muitas partes do mundo temos dificuldade em criar sociedades mais justas.
Ao fazer uma análise dos
seus oito anos na Casa Branca, Obama celebrou o fato de não ter se envolvido em
nenhum escândalo. "Ninguém foi preso. Erramos, não fomos perfeitos. Mas
mantivemos a integridade. E fomos capazes de mostrar que é possível alcançar um
grande poder sem corrupção". Ele também fez questão de mencionar o esforço
de seu Governo nas negociações que deram início ao Acordo de Paris, embora seu
país, agora sob comando de Donald Trump, não estivesse mais nele.
Obama foi fortemente
aplaudido ao criticar as leis referentes à venda de armas nos Estados Unidos e
lamentar não ter tido o poder de alterá-las. "Um dos dias mais difíceis no
meu Governo foi quando houve um tiroteio em uma escola e eu não pude prometer aos
pais que perderam seus filhos que eu mudaria as leis para que aquilo não
acontecesse com outras crianças", disse. Para o ex-presidente, "as
leis sobre armas nos EUA não fazem muito sentido".
O ex-mandatário encerrou sua
fala pedindo que os brasileiros mantivessem o seu otimismo. Apesar de
considerar que muitas coisas não andam bem, Obama afirmou que o mundo nunca
viveu tamanho progresso com elevado padrão de vida.
Fonte: El País