O presidente Jair Bolsonaro visitou o Nordeste nesta sexta-feira Foto: Carolina Antunes/PR |
Presidente demonstrou
irritação ao ser questionado sobre índice de reprovação na região
Passava das 9 horas da manhã
desta sexta-feira quando Jair Bolsonaro pisou pela primeira vez no Nordeste
como presidente da República. O avião que o levou de Brasília até o Recife, no
143º dia de seu governo, pousou na base aérea da capital pernambucana. De lá,
embarcou em um helicóptero rumo ao Instituto Ricardo Brennand, que abriga um
castelo construído pelo empresário e colecionador de mesmo nome.
Do lado de fora dos portões,
cravados a 1 quilômetro das instalações do espaço cultural, dezenas de apoiadores
e manifestantes contrários ao presidente esperavam sua chegada. Em vão.
A passagem de cerca de
quatro horas de Bolsonaro pelo Recife,
onde ele se reuniu com os nove governadores do Nordeste e o de Minas Gerais
para aprovar o Plano de Desenvolvimento do Nordeste, foi em quase tudo
protocolar. Tão protocolar que nem sequer mereceu um registro nas agitadas
redes sociais do presidente.
É na região que Bolsonaro
tem os maiores índice de reprovação a seu governo. No segundo turno das
eleições do ano passado, ele perdeu para o adversário Fernando Haddad (PT) nos
noves estados nordestinos.
Ao ser questionado sobre sua
resposta a essa rejeição por uma jornalista durante um
"quebra-queixo" na saída do evento, ele demonstrou impaciência e
irritação. "Ô, ô, ô, vamos fazer uma pergunta inteligente, por favor?
Vamos fazer uma pergunta inteligente...", disse, interrompendo a pergunta
no meio.
No meio da tarde, Bolsonaro
mudou o semblante. Em Petrolina, a mais de 700 quilômetros, ele foi recebido
por gritos de "mito", bandeiras do Brasil e deixou o carro para
acenar aos apoiadores.
O vídeo com as imagens e o
barulho da acolhida logo foi parar em seus perfis oficiais na internet.
"Nas ruas de Petrolina. Muito obrigado, Pernambuco! Um forte
abraço!", diz a mensagem publicada com a gravação, quase que imediatamente
replicada por aliados.
Na cidade para inaugurar um
empreendimento do programa Minha Casa, Minha Vida, ele estava acompanhado de
ministros e do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no
Senado. O prefeito de Petrolina vem a ser um de seus filhos, Miguel Coelho.
No Recife, o presidente deu
início à programação com uma visita ao acervo do museu e logo depois assistiu a
uma apresentação musical da Orquestra Criança Cidadã, composta desde 2006 por
jovens do Coque, um dos bairros mais pobres do Recife. Bolsonaro ouviu "My
way", famosa na voz de Frank Sinatra, "Tico-tico no fubá" e
"Asa branca", entre outras canções.
Já na reunião, o anfitrião
Ricardo Brennand, aos 91 anos, disse esperar que da reunião saísse uma solução
para os crônicos problemas do Nordeste. "Presidente, não se esqueça de
nós", pediu o pernambucano, ao microfone.
Sentados em mesas
posicionadas em formato de semicírculo, os participantes da reunião externaram
queixas às dificuldades econômicas que enfrentam, a começar pelo prefeito do
Recife, Geraldo Júlio (PSB). "Nós estamos vivendo a mais profunda e mais
duradoura crise econômica que esse país já viveu", disse o alcaide. Quase
todos os oradores eram de partidos de oposição, entre eles o PT.
O presidente levou seis de
seus ministros para participar do evento: Gustavo Canuto (Desenvolvimento
Regional), Osmar Terra (Cidadania), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia),
Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), Floriano Peixoto
(Secretaria-Geral) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).
Bolsonaro demonstrou certo
desconforto na maior parte do encontro. "É uma satisfação voltar ao
Nordeste como presidente da República", abriu o discurso, com a fisionomia
carregada.
As bandeiras do Brasil e dos
estados abarcados pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene)
estavam posicionadas as suas costas quando ele exaltou a união de "todos
nós, políticos, independente de agremiação político-partidária, para atingirmos
um futuro maior, que é o futuro do nosso Brasil".
Em Petrolina, o Bolsonaro
que foi ao microfone estava sorridente. "Não há recompensa maior do que
estar entre amigos", comentou no início do discurso, sendo ovacionado.
"Podem ter certeza, meu coração é pernambucano."
O presidente estava à
vontade. Citou as autoridades presentes e até o filho de 20 anos, Jair Renan,
que o acompanhou na viagem para depois seguirem juntos ao Rio de Janeiro, local
do casamento de Eduardo Bolsonaro, no sábado.
Depois de repetir histórias
que costumava contar nos palanques da campanha, Bolsonaro arrematou sua fala
dizendo que não estava no Nordeste. "Eu estou no Brasil!", concluiu.
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