No fim deste quinto dia de
fronteira fechada, o governo venezuelano autorizou a passagem de brasileiros
que estavam na cidade de Santa Elena. Os primeiros a atravessar foram os
doentes ou recém-operados.
Foi por uma rota clandestina
que as duas amigas - Fabiana e Silvania - conseguiram alcançar o território
brasileiro. Elas tinham feito cirurgias plásticas na Venezuela e caminharam 40
minutos sob o sol forte. Chegaram passando mal. Tiveram de ser resgatadas pelo
Corpo de Bombeiros ainda na trilha que passa longe do posto de controle da
fronteira. Uma delas teve de ser levada de maca até uma ambulância.
Outro brasileiro também
chegou, nesta terça-feira (26), andando: o caminhoneiro Josué Rodrigues. Ele
disse que 37 caminhões estavam parados a dez quilômetros da fronteira, mas seus
colegas estavam bem: "Eu sou brasileiro. Eu poderia muito bem 'meter o
pau' nos venezuelanos. Não. Estão tratando a gente com respeito, com decência.
Eles não podem dar aquilo que eles não têm".
No começo da tarde, uma
reunião entre os militares brasileiros e venezuelanos, bem em cima da linha de
fronteira. Parecia ser o fim da negociação para a liberação de mais de 70
brasileiros que, nesta segunda-feira (25), lotaram o vice-consulado do Brasil
na cidade de Santa Elena de Uairén, a 17 quilômetros da fronteira, querendo
voltar para o Brasil.
Ainda não era o sinal verde,
mas um começo. O governo de Nicolás Maduro tinha deixado que o vice-cônsul do
Brasil em Santa Elena, Ewerton Oliveira, pegasse comida e remédios para levar
para os brasileiros. Mais tarde, ele poderia trazer de volta os que estão
doentes ou que foram operados. Os outros ainda não.
No fim da tarde, um grupo
conseguiu atravessar a fronteira em direção ao território brasileiro.
"Muito feliz por estar de volta, em casa", disse uma das mulheres que
estava no grupo.
Longe dali, na capital,
Caracas, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse que o líder opositor,
Juan Guaidó, que está na Colômbia, vai ter que enfrentar a Justiça, caso ele
volte para a Venezuela.
Guaidó foi proibido de
deixar o país e teve contas bloqueadas pelo Tribunal Supremo de Justiça, que é
alinhado com o regime de Maduro. Os assessores dele disseram que esta
terça-feira (26) seria o último dia em Bogotá e, até o fim da semana,
retornaria à Caracas.
Guaidó, que se autoproclamou
presidente interino e foi reconhecido por 50 países, deu uma entrevista a um
canal de notícias colombiano em que reafirmou que vai voltar ao país, apesar do
risco de ser preso.
Enquanto a crise política
continua na Venezuela, a ajuda humanitária está esquecida. Os dois pequenos
caminhões que os aliados de Juan Guaidó conseguiram trazer até a fronteira
estão estacionados do lado brasileiro, dentro de um batalhão do Exército, e as
toneladas de comida e remédios estão guardadas. Ninguém sabe ainda o que será
feito delas.
No entanto, perto dali, em
uma comunidade que nasceu com a chegada dos venezuelanos que fugiam da crise, a
fome continua marcando vidas. Erica Jamile, que fugiu para o Brasil há quatro
meses, diz que quando a fome aperta, sai para caminhar: "Às vezes caminho por
aí para ver se me dão algo. Como somos família, nos ajudamos".
Fonte: Jornal Nacional
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