4/04/2015

Estação Cocal

Baixos índices de popularidade de Dilma na classe C acendem alerta no Planalto

Com os baixos índices de popularidade de Dilma na classe C, aliados pressionam por mudanças na comunicação do governo e cobram flexibilização nas reformulações das regras trabalhistas


 
CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO CONTEÚDO - 10/3/15
Brasília – Os impactos da crise na econômica e das mudanças trabalhistas anunciadas pelo governo classe C acenderam o sinal de alerta do PT. Fatia de 54% da população, que incorporou cerca de 40 milhões de brasileiros durante os anos de gestão da legenda, esse eleitorado vive agora uma crise de liderança, refletida nos baixos índices de popularidade da presidente Dilma Rousseff. Para interlocutores do Palácio do Planalto, o governo deve se concentrar na tentativa de recuperar a confiança da classe C.
A falha na comunicação com a classe eleitoralmente mais importante para o partido já foi diagnosticada. Em conversas com Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem insistido que o governo precisa se comunicar melhor. “Os dois têm conversado. Dilma parece ouvi-lo. Parece entendê-lo. Mas insiste nos erros”, diz um interlocutor do partido. Os aliados têm reclamado que, às vésperas de serem avaliadas pelo Congresso, o governo não soube explicar para a população até hoje onde quer chegar com as reformulações de regras trabalhistas que restringem benefícios.

Lula tem demonstrado preocupação especialmente com o eleitorado que vai votar pela primeira vez nas próximas eleições. Isso porque é uma geração que tinha menos de 10 anos quando ele saiu do poder e, de lá para cá, só tem visto notícias negativas relacionadas ao PT. Para o ex-presidente, o partido está perdendo o discurso da busca por mais conquistas sociais.

Em meio à crise econômica e política, Dilma viu sua popularidade desabar com a ajuda da classe média, maior fatia da população brasileira. Como nos outros segmentos, mais da metade da classe C tem a pior impressão possível do governo. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada há pouco mais de duas semanas, 66% dos brasileiros que têm renda entre dois e cinco salários mínimos acham o governo Dilma ruim ou péssimo. Na faixa de cinco a 10 salários mínimos, o percentual cai um ponto: 65%.

A menos de dois anos para as eleições municipais, prefeitos e candidatos ao posto pelo PT estão preocupados com um efeito dominó em relação à baixa popularidade de Dilma. “Eles têm ligado principalmente para os deputados. Pedem que o Congresso não aprove as reformulações nas leis trabalhistas propostas pelo governo. Dizem que isso será cobrado nas eleições”, relata um aliado do Planalto. No esforço para ver o pacote aprovado, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, esteve no Congresso esta semana para explicar as medidas aos senadores.

Interlocutores de Dilma, no entanto, já admitem a possibilidade de ceder em alguns pontos. A insatisfação entre petistas é tanta que o assunto parou de ser discutido apenas internamente. O senador Paulo Paim (PT-RS), filiado à legenda desde 1985, ameaça mudar de partido caso as medidas sejam aprovadas. Ligado a sindicalistas e aposentados, ele tem sido pressionado pela base eleitoral. Outros correligionários, como o senador Walter Pinheiro (BA), também reclamam do pacote.

Para Renato Meirelles, presidente do Data Popular, instituto que tem se dedicado a estudar a classe média, há uma crise de perspectiva. “A classe C está descrente. (...) Está desiludida. Está sem liderança. Hoje a maior crise para a classe C não é a econômica ou a moral pela corrupção. É a de perspectiva, de liderança. Ela sabe que a vida não está fácil e não está enxergando quem vai ajudá-la a sair da crise.”

Meirelles avalia que o momento também não é bom para a oposição. “A classe C saiu dividida do processo eleitoral. Os mais jovens ficaram com a candidatura oposicionista e os mais velhos, com Dilma. Quando acaba o processo eleitoral, eles não viram uma única notícia boa ser dada pelo governo. Eles ficam órfãos de uma liderança. Mas essas dificuldades que o governo está tendo no início de mandato também não significam nada para a oposição. Porque ninguém enxerga na oposição um líder.”

Retrocesso
 Ex-ministro do governo Dilma, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, se dedicou, à frente da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, entre 2011 e 2013, a estudar a nova classe média. Para ele, há um retrocesso em relação às conquistas que a classe C obteve nas últimas décadas. “Os indicadores são o aumento da taxa de desemprego e evidentemente uma diminuição da renda. A classe média brasileira, nos últimos 10 anos, se robusteceu por ganho de renda. Não foram os programas sociais que impulsionaram os brasileiros para a classe média. Foi o trabalho com carteira assinada.”

De acordo com Moreira Franco, o PMDB, maior aliado oficial do PT na Presidência da República, já avalia os danos da crise nas eleições do ano que vem. “Vamos fazer em agosto e setembro um congresso nacional do partido, com objetivo de definir o novo programa para os próximos 10 anos. O primeiro item é o enfrentamento da crise para que possamos restabelecer um ambiente propício à retomada do crescimento econômico. Se conseguirmos produzir uma proposta clara e consistente, vai melhorar bastante a adesão do eleitorado ao PMDB.” Moreira Franco destaca que as eleições de 2016 serão fundamentais para os projetos presidenciais de 2018.

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