4/04/2015

Estação Cocal

Vigília marca um ano da morte de Bernardo em Três Passos, no RS

Amigos e ex-colegas prestaram homenagem ao menino neste sábado (4).
Ato em frente à casa teve oração, coral e leitura de carta.


A homenagem a Bernardo Boldrini, cuja morte completa um ano neste sábado (4), começou cedo em Três Passos, na Região Noroeste do Rio Grande do Sul, onde ele morava. Desde as primeiras horas da manhã, cartazes, banners, flores e velas montavam o cenário de lembranças em frente à casa da família, na Rua Gaspar Silveira Martins. Cerca de 100 pessoas participaram.
Amigos e ex-colegas de Bernardo fizeram a leitura de uma carta (Foto: Caetanno Freitas/G1)Amigos e ex-colegas de Bernardo fizeram a leitura
de uma carta (Foto: Caetanno Freitas/G1)
Bem antes dos outros chegarem, Juçara Petry já começava a arrumar o local junto com ex-professoras do menino. "Esse ato marca nossa luta incansável por Justiça. É um marco que só nos dá mais força", afirma a Tia Ju, como Bernardo a chamava.
Duas barracas foram montadas caso chovesse, o que não ocorreu. Na grade de proteção da residência foi colocado um quadro representando um aquário, que o menino sonhava em ter, para que as pessoas escrevessem suas mensagens.
Muitos vieram de outros estados para prestar sua homenagem. De Rio Azul (PR), o agricultor Teodoro Padilha se ajoelhou diante dos cartazes e começou a rezar. "Vim aqui somente para orar por esse menino iluminado, vítima desse crime tão cruel. Depois vou a Santa Maria visitar o túmulo dele ao lado da mãe", disse.
"Sempre acompanhamos a história do Bernardo, mesmo sem o conhecer. Sou mãe e sinto muito esse crime horrível que aconteceu com ele", diz Denise Nascimento, que decidiu vir com o marido Marcelo de Curitiba (PR).Em frente à casa, cartazes vindos de várias partes do país, como Natal (RN), Brasília (DF) e Recife (PE). "Isso demonstra que não estamos sozinhos. É muita gente lutando pelo Be", analisa Juçara.
Por volta das 11h40, uma oração e um coral de crianças iniciaram a homenagem. Pontualmente às 11h50, horário em que os colegas do colégio se despediram dele pela última vez, a leitura de uma carta marcou os 12 meses sem Bernardo. Para cada mês, uma vela foi acendida.
Durante boa parte do ato, músicas evangélicas que fazem referência ao crime e a Bernardo foram tocadas por um carro de som. Um telão ao lado passou imagens do garoto. Duas ruas do entorno foram bloqueadas pela Brigada Militar.
A homenagem seguiu durante a tarde deste sábado (4) no mesmo local. Pouco antes das 16h, o grupo que permanecia no local, cerca de 30 pessoas, cantou músicas do Paralamas do Sucesso, Cazuza e Adriana Calcanhoto. O horário representa o momento em que o menino foi morto, segundo a polícia. Em seguida, a carta a Bernardo foi lida novamente. Uma oração encerrou as atividades da vigília deste sábado (4). No domingo (5), uma missa será realizada às 19h, seguida de uma caminhada até a casa da família.
bernardo boldrini (Foto: GloboNews)Bernardo Boldrini foi encontrado morto em abril
(Foto: Reprodução/GloboNews)
Relembre o caso
- Bernardo Boldrini foi visto vivo pela última vez no dia 4 de abril de 2014 por um policial rodoviário. No início da tarde, Graciele foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. A mulher trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
- Um vídeo divulgado em maio do ano passado mostra os últimos momentos de Bernardo. Ele aparece deixando a caminhonete da madrasta, Graciele Ugulini, e saindo com ela e com a assistente social Edelvânia Wirganovicz. Horas depois, as duas retornam sem Bernardo para o mesmo local.
- O corpo de Bernardo foi encontrado no dia 14 de abril de 2014, enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen.
- Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo.  A denúncia do Ministério Público apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita. A defesa do pai nega.
 - Nesta terça-feira (31), um vídeo foi divulgado pela defesa de Edelvânia, em queela muda sua versão sobre o crime. Nas imagens, ela aparece ao lado do advogado e diz que a criança morreu por causa do excesso de medicamentos dados pela madrasta. Na época em que ocorreram as prisões, Edelvânia havia dito à polícia que a morte se deu por uma injeção letal e que, em seguida, ela e a amiga Graciele jogaram soda cáustica sobre o corpo. A mulher ainda diz que o irmão, Evandro Wirganovicz, é inocente.

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O CASO
Carta de suicídio da mãe do menino Bernardo foi forjada, dizem peritos (Foto: Reprodução)Bernardo ao lado da mãe, que morreu em 2010
(Foto: Reprodução)
Como Bernardo morreu?
A Polícia Civil aponta que Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan e depois enterrado em uma cova rasa, na área rural de Frederico Westphalen. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo.

Com quem Bernardo morava?
Ele vivia com o pai, a madrasta e a bebê do casal, à época com cerca de um ano, em uma casa em Três Passos. A mãe de Bernardo, Odilaine, morreu em fevereiro de 2010. Recentemente, o  Ministério Público solicitou novos documentos sobre o caso de Odilaine. Em até 30 dias, o MP deve se manifestar a favor ou contra a abertura das investigações. O inquérito policial concluiu que ela se matou, mas uma perícia particular contratada pela família aponta a hipótese de homicídio.
Quem está preso?
O médico Leandro Boldrini, pai da criança, a madrasta Graciele Ugulini, a amiga dela Edelvânia Wirganovicz e o irmão Evandro Wirganovicz.
Quando ocorre o julgamento?
Ainda não há data marcada. Conforme o Tribunal de Justiça (TJ-RS), os quatro réus devem ser interrogados ainda no primeiro semestre deste ano. Depois disso, as defesas apresentam seus argumentos. A expectativa é que o julgamento aconteça até o fim de 2015.

Os réus respondem por quais crimes?
Leandro Boldrini vai responder por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. Graciele e Edelvânia responderão por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Evandro Wirganovicz é acusado de homicídio simples e ocultação de cadáver.
Como o corpo foi encontrado?
Na noite do dia 14 de abril, o corpo do menino foi encontrado enterrado em uma cova em um matagal na cidade de Frederico Westphalen, no Norte do estado, a 80 km de onde o menino morava. Edelvania mostrou aos policiais onde o corpo da criança estava enterrado.
Como era a relação de Bernardo com o pai?
 No ano passado, vídeos gravados pelo próprio pai mostram discussões do menino com o casal. Em um deles, a criança está com uma faca na mão e é instigada por Leandro. "Vamos lá, machão", diz o médico. Há também relatos de vizinhos e amigos dão conta que o menino se dizia carente de atenção. Ele chegou a procurar a Justiça para relatar o caso.
No início de 2014, o juiz Fernando Vieira dos Santos, 34 anos, da Vara da Infância e Juventude de Três Passos, autorizou que o garoto continuasse morando com o pai, após o Ministério Público (MP) instaurar uma investigação contra o homem por negligência afetiva e abandono familiar.
 De acordo com o MP, desde novembro de 2013, o pai de Bernardo era investigado. Entretanto, jamais houve indícios de agressões físicas. Em janeiro, o garoto foi ouvido pelo órgão e chegou a pedir para morar com outra família.
O médico pediu uma segunda chance. Com a promessa de que buscaria reatar os laços familiares com o filho, ele convenceu a Justiça a autorizar uma nova experiência. Na época, a avó materna, que mora em Santa Maria, na Região Central do estado, chegou a se disponibilizar para assumir a guarda. Porém, conforme o MP, Bernardo também concordou em continuar na casa do pai e da madrasta.
O que ocorreu com a mãe de Bernardo? 
Odilaine Uglione foi encontrada morta em 2010, dentro da clínica do então marido, o médico Leandro Boldrini, em Três Passos. À época, a investigação da polícia concluiu que ela cometeu suicídio com um revólver. No último domingo (29), o Fantástico mostrou o resultado de uma perícia particular contratada pela família, que conclui que a suposta carta suicida da enfermeira teria sido forjada, escrita por outra pessoa (leia mais aqui).

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