7/31/2015

Estação Cocal


Presidente de CPI nega ameaça a Catta Preta e diz que ela se vitimiza

Hugo Motta afirma que advogada terá que explicar para os deputados
os motivos da acusação e que a CPI quer saber quem a ameaçou.

A decisão da advogada Beatriz Catta Preta de deixar os clientes da Operação Lava Jato teve grande repercussão no mundo político. Em entrevista exclusiva ao Jornal Nacional, ela disse que se sente ameaçada por integrantes da CPI da Petrobras.
Em plena sexta de recesso parlamentar, o presidente da CPI da Petrobras chamou os jornalistas. O deputado Hugo Motta, do PMDB, disse que a CPI não está ameaçando Beatriz Catta Preta, e que agora a advogada terá que explicar para os deputados os motivos da acusação.

“A CPI agora quer saber quem ameaçou a doutora Catta Preta. A CPI não ameaça ninguém, a CPI investiga. Então essa vitimização, ela não vai intimidar a CPI, essa vitimização não vai fazer com que nós recuemos do nosso trabalho”, afirma Hugo Motta.

Em entrevista exclusiva ao Jornal Nacional, a criminalista revelou ser alvo de ameaças veladas por parte de integrantes da CPI

“Vem dos integrantes da CPI, daqueles que votaram a favor da minha convocação”, disse Beatriz Catta Preta.

A convocação dela foi aprovada por unanimidade na CPI, por parlamentares de partidos governistas e de oposição. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) diz que não estava presente no dia da aprovação e questionou a pressa da CPI para aprovar a convocação da advogada.

“Nós tivemos um prazo enorme para poder aprovar, por exemplo, um requerimento de autoria de vários deputados da convocação do Júlio Camargo, que demorou mais de quatro meses para ser votado no plenário. Enquanto alguns requerimentos foram colocados naquele dia, no dia 9 de julho, em votação e aprovados no mesmo dia. Demonstra, claramente, que nós entramos num período de risco, de viabilização ou de invalidação dos trabalhos da CPI”, afirma o deputado Júlio Delgado.

O autor do pedido é o deputado Celso Pansera, do PMDB, aliado do presidente da Câmara. Ele mais uma vez defendeu a ida de Catta Preta à CPI e negou tentativa de intimidá-la.

“Não tem sentido o que ela falou. Não consigo ver sentido nisso. E nunca ouvi nenhum deputado falar qualquer coisa de intimidar, de pressionar a doutora Catta Preta através da CPI”, diz Pansera.

Segundo Catta Preta, a convocação foi decisiva para que ela deixasse a advocacia. Tudo começou com a mudança no depoimento à Procuradoria Geral da República do ex-consultor Júlio Camargo, que era cliente dela. Camargo disse que pagou US$ 5 milhões em propina para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do PMDB. A convocação foi depois disso.

“Vamos dizer que, aumentou essa pressão, aumentou essa tentativa de intimidação a mim e à minha família”, disse Beatriz Catta Preta.
Questionada se estava sendo perseguida por Eduardo Cunha, ela respondeu: “Não posso afirmar, eu não vi nenhum depoimento dele a respeito desse assunto.”

O deputado Jarbas Vasconcelos, do PMDB, mesmo partido do presidente da CPI e do presidente da Câmara, levantou suspeitas sobre a conduta da comissão.

“O objetivo da convocação dela é um objetivo de chantagem, ela foi usada para ir à CPI para fazer chantagem, intimidá-la. Primeiro intimidá-la. Fiquei mais estarrecido ainda com o depoimento da criminalista. Fiquei horrorizado", afirma Jarbas Vasconcelos.

A defesa do presidente da Câmara nega ligação entre a convocação e as supostas pressões. Eduardo Cunha não quis gravar entrevista. Por telefone, o advogado dele disse que Catta Preta levantou suspeitas sem apresentar provas.

“As afirmações veiculadas na entrevista são manifestamente inverídicas e inconsistentes. A convocação se deu muito antes de se divulgar qualquer mudança de depoimento do Júlio Camargo”, diz o advogado.

O ministro da Justiça considerou as acusações graves.

“É uma denúncia grave que evidentemente caberá ao Ministério Público Federal, que conduz a questão das delações premiadas, determinar as medidas que sejam cabíveis para apuração da situação”, defende José Eduardo Cardozo.

A Ordem dos Advogados do Brasil lamentou que Catta Preta tenha que deixar a profissão por causa de ameaças. E cobrou punições.

“Em sendo comprovada a ameaça e em se verificando quem são os causadores deste tipo de situação, sem dúvida alguma é necessário a devida responsabilização”, diz Marcus Vinicius Furtado Coêlho, presidente nacional da OAB.

O Supremo Tribunal Federal dispensou a advogada de falar de honorários, mas não de ir à CPI. A convocação dela está mantida. Na semana que vem, na volta das férias, os integrantes da comissão devem discutir a data do depoimento.

“Eu quero dizer que as prerrogativas dos advogados, os predicamentos da magistratura e as imunidades paralamentares não são privilégios dessas categorias, mas são, sim, garantias da própria cidadania”, diz o presidente do STF, Ricardo Lewandowski.

Nenhum comentário:

Postar um comentário