Jair Bolsonaro presenteia Donald Trump com uma camisa da Seleção Brasileira, durante encontro na Casa Branca, em Washington - compromisso desfeito - 19/03/2019 (Kevin Lamarque/Reuters) |
O secretário de Estado
americano, Mike Pompeo, informou o secretário-geral da Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), José Ángel Gurría, que os
Estados Unidos apoiarão apenas o ingresso da Argentina e da Romênia na
instituição, o que significa a retirada de seu respaldo ao acesso do Brasil. A
agência de notícias Bloomberg obteve a carta de Pompeu, enviada em 28
de agosto.
A decisão contradiz o
anuncio público de apoio do presidente americano, Donald Trump, ao acesso
do Brasil na OCDE durante a visita de Jair Bolsonaro a Washington, em março
deste ano. O respaldo dos Estados Unidos fora endossado pelo secretário de
Comércio, Wilbur Ross, durante uma visita em São Paulo.
O apoio americano ao acesso
do Brasil na OCDE foi um dos principais resultados da visita do presidente Jair
Bolsonaro a Donald Trump, em Washington, em março passado, e selou o
alinhamento da política externa brasileira à dos Estados Unidos. A medida teve
como contrapartida o consentimento do governo brasileiro à sua retirada
voluntária do sistema de preferências para economias em desenvolvimento da
Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Os Estados Unidos continuam
a preferir a ampliação a um ritmo mais lento levando em consideração a necessidade
de pressionar pelo planejamento de governança e sucessão”, afirmou Pompeu na
carta.
Quase ao mesmo tempo em que
a reportagem da Bloomberg ia para o ar nesta quinta-feira, 10, o
ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, demonstrou desinformação
ao afirmar que “estamos prontos para integrar na OCDE. Nós e o setor privado
acreditamos que isso será chave para o desenvolvimento do Brasil”, durante o
Fórum de Investimentos Brasil 2019, em São Paulo.
O apoio dos Estados Unidos
era considerado tão sólido pelo governo brasileiro que, em 1º de outubro, o
deputado Eduardo Bolsonaro, presidente da Comissão de Relações Exteriores da
Câmara, postou no Twitter mensagem sobre a criação do Grupo Parlamentar de
Amizade Brasil-OCDE, do qual tornou-se vice-presidente.
Um funcionário do alto
escalão do governo americano disse à Bloomberg que os Estados Unidos
apoiam a ampliação do bloco e um eventual convite para o Brasil. Porém, seu
país está focado no ingresso da Argentina e da Romênia, devido aos “esforços de
reforma econômica e o compromisso com o livre mercado”.
A decisão americana pode ter
surpreendido a cúpula Itamaraty, mas alguns de seus segmentos jamais confiaram
no apoio real dos Estados Unidos ao acesso do Brasil à OCDE neste momento. Em
dezembro do ano passado, Washington já havia endossado o ingresso da Argentina
– mesmo mergulhada em grave crise econômica – e da Romênia. Mas se contrapunha
ao acesso dos demais países respaldados pela União Europeia – Bulgária e
Croácia.
Para cumprir seu compromisso
com Bolsonaro, Trump teria de ceder aos europeus. Outro país desconsiderado neste
momento por Washington foi o Peru, ao qual a Casa Branca também prometera seu
apoio. Segundo uma fonte do Ministério da Economia, a rigor, os Estados
Unidos não rejeitaram o Brasil, mas decidiram manter o processo de ampliação da
OCDE bloqueado. “Na prática, tudo está parado”, afirmou.
Há anos, o Brasil faz parte
oficialmente de 30 dos cerca de 300 comitês e grupos da OCDE. Como convidado,
atua em outros órgãos da instituição. Desde que o governo brasileiro retomou
sua intenção de ingressar na OCDE como membro, durante a gestão de Michel
Temer, o Brasil enviou a Paris um representante exclusivamente para tratar
desse tema, o embaixador Carlos Márcio Cozendey.
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