2/18/2015

Estação Cocal

  • por Thais Herédia

    Consumir energia é direito adquirido

    O horário de verão de 2015 termina no próximo domingo, dia 22 de fevereiro. A economia esperada para o período de pouco mais de quatro meses deve ter sido a menor dos últimos anos, segundo estimativas feitas até agora. O relógio voltará ao normal (com uma hora a menos) em 11 estados das regiões Sul e Sudeste, mais o Distrito Federal. Mas a realidade que se avizinha valerá para todo país: a alta na conta de luz. 
     
    Há pouco mais de 2 anos, quando o governo decidiu pelo corte nas tarifas para todos os consumidores, o nível médio dos reservatórios que respondem por 70% da capacidade de produção de energia hidrelétrica no país já era o mesmo do período anterior ao racionamento de 2001. A semelhança deste dado não é a parte mais ameaçadora da história. Há 14 anos, o consumo das famílias era muito menor e a indústria operava a todo vapor se preparando para crescer muito naquele ano. 
     
    Agora, a indústria tem crescimento negativo; e as famílias? Ganharam direito adquirido pra o uso livre de energia elétrica, ora! Afinal, mesmo com os alertas sobre a capacidade de geração das hidrelétricas desde 2012, o governo barateou o crédito e forçou a queda nos preços dos eletroeletrônicos, isentando o setor de vários impostos. A recém formada classe média brasileira montou a casa nova com tudo que sempre sonhou (e merecia) e nunca pode comprar – ou porque o preço do produto não permitia, ou porque o custo de manter uma máquina de lavar louças funcionando não cabia no orçamento da família. 
     
    Agora que as contas públicas não podem mais bancar o sonho geral e a geração de energia não atende à demanda, o consumidor vai ter que desligar tudo e, ainda assim, pagar muito caro pela conta de luz.  O risco de um racionamento de energia cresce e, diferentemente do que aconteceu em 2001, quem vai sofrer mais é o consumidor caseiro, o comerciante e o prestador de serviços. Até porque, a indústria já está “fora da tomada” e vai seguir assim. 
     
    O desarranjo no abastecimento de energia é mais um dos obstáculos que vêm aparecendo no caminho da economia brasileira. Enquanto não for possível saber quanto vai custar a conta de luz, já que não se sabe que energia vamos usar (a mais cara ou a mais barata), a inflação vai subindo buscando equilibrar, à força, a demanda e a oferta no mercado. 
     
    O crescimento, ou a falta dele, é o maior custo a ser pago por todos. A última previsão dos economistas ouvidos pelo Banco Central é de PIB negativo em 2015 – de 0,43%. Com esse nome – PIB – parece uma coisa distante da vida cotidiana. Mas se ele for traduzido para emprego, renda, investimento, poupança, exportação, a compreensão do tamanho da conta é total.

Nenhum comentário:

Postar um comentário