Foto: Reuters / Rodolfo Buhrer |
CAROLINA LINHARES, KATNA
BARAN E JOSÉ MARQUES (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) deixou o velório do neto em São Bernardo do Campo por volta das 13h deste
sábado (2), após quase duas horas no local. Ele partiu até o aeroporto de Congonhas,
e então foi levado de volta para a sede da Polícia Federal em Curitiba, onde o
helicóptero que o transportava pousou às 15h45. O ex-presidente cumpre pena
desde abril de 2018 por condenações de corrupção na Lava Jato.
Lula saiu do helicóptero cabisbaixo
e não chegou a acenar para os cerca de 30 apoiadores que se manifestavam na
parte de trás da PF. Entre a saída e a chegada em Curitiba, Lula passou cerca
de nove horas fora da prisão. Sob escolta armada, Lula foi levado pela manhã ao
cemitério Jardim da Colina aos gritos de "Lula livre" e "Lula
guerreiro do povo brasileiro". Na ocasião, ele acenou para os
simpatizantes, que se aglomeravam no entorno, contidos por grades. Os
apoiadores rezaram um Pai-Nosso em seguida.
Arthur Araújo Lula da Silva,
7, morreu em decorrência de meningite meningocócica na sexta (1). O menino
visitou o avô por duas vezes na sede da PF, no ano passado. Era filho de
Marlene Araújo Lula da Silva e Sandro Luis Lula da Silva, filho do
ex-presidente e de Marisa. Familiares e amigos se despediram de Arthur num
caixão branco aberto. À frente, foram colocados brinquedos, bola de futebol e
um par de chuteiras. A sala estava repleta de coroas de flores, enviadas por
políticos, membros da família, sindicatos e também pelo ditador da Venezuela,
Nicolás Maduro.
Apenas a família e poucos
políticos tiveram acesso a Lula dentro do crematório. Segundo relatos de
pessoas que estiveram ali, o ex-presidente chorou compulsivamente ao entrar e,
após as falas de um padre e dois pastores metodistas, discursou brevemente ao
lado do corpo da criança. Lula disse que irá levar seu "diploma de
inocência" para a criança no céu. Segundo os presentes, ele afirmou que
Arthur sofreu muito bullying na escola por ser seu neto e prometeu a ele que
iria provar que não é culpado.
O petista disse ainda que
não é natural uma criança morrer antes dos avós, referiu-se a si mesmo como
alguém que "está fazendo hora extra" e afirmou que as pessoas que o
condenaram não podem olhar para os netos com a consciência limpa que ele olha
para Arthur. Lula pôde circular pela sala onde está o caixão do neto e pela
sala adjacente. A Polícia Federal proibiu o registro de imagens, vídeos e
áudios, inclusive pela equipe de comunicação do PT.
Aproximadamente 100 pessoas,
entre políticos e familiares, assistiram à cerimônia de cremação de Arthur
junto a Lula. O ex-presidente passou a primeira hora recebendo cumprimentos dos
presentes. Ao ver a criança, segundo os relatos dos presentes, se debruçou ao
lado do caixão, chorando. Depois, assistiu de pé à celebração religiosa. O
padre Jaime Crowe, o primeiro a falar, disse estar diante de uma "dupla
tragédia": segundo ele, a prisão de Lula e a morte de Arthur.
A presidente do PT, Gleisi
Hoffmann, esteve no velório na noite de sexta. Na manhã de sábado, também
estavam presentes os petistas Emídio de Souza, Aloizio Mercadante, Gilberto
Carvalho, Benedita da Silva, José Genoíno, Alexandre Padilha, Clara Ant e
Elenora Menicucci, os deputados Carlos Zarattini (PT-SP) e Ivan Valente
(PSOL-SP), além do vereador de São Paulo Eduardo Suplicy (PT) e do líder do
PSOL Guilherme Boulos.
Lula recebeu autorização da
Justiça Federal do Paraná para acompanhar o velório e cerimônia de cremação. A
Lei de Execução Penal prevê a permissão de saída de presos para velórios e
enterros de familiares, incluindo descendentes. A saída do ex-presidente
ocorreu sob forte esquema de segurança e uma logística com avião e helicóptero
para transportá-lo. Ele deixou a superintendência da PF em um helicóptero às
7h. De lá seguiu para o aeroporto do Bacacheri, onde trocou de aeronave rumo ao
aeroporto de Congonhas, na capital paulista.
Lula voou para São Paulo em
avião do Governo do Paraná, cedido a pedido da Polícia Federal pelo governador
Ratinho Júnior (PSD). De Congonhas, Lula seguiu de helicóptero para as
proximidades do cemitério. O restante do trajeto foi feito de carro. Mais de
dez viaturas da Polícia Militar aguardaram a chegada de Lula no cemitério. Os
policiais armados ficaram responsáveis pela segurança do lado de fora da sala
do velório, enquanto a segurança de Lula ficou a cargo da PF.
Sindicalistas e apoiadores
também tiveram a entrada autorizada, e a aglomeração no local cresceu ao longo
da manhã. Simpatizantes e políticos, porém, tiveram que deixar o local onde
estava o caixão de Arthur por uma determinação da PF de que somente familiares
estivessem presentes.
Seguranças do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC montaram uma estrutura de grades para controlar a entrada.
A presença de mais de uma centena de pessoas no local, porém, foi discreta em
relação a mobilizações anteriores -a pedido de aliados do próprio petista, que
se comprometeu a manter detalhes de seu roteiro sob sigilo.
Paulo Okamotto, presidente
do Instituto Lula, informou aos policiais que a militância não foi convocada, e
que o velório seria reservado a familiares e amigos. Líderes petistas
demonstraram incômodo com a quantidade de policiais. Okamotto, que é tio da mãe
de Arthur, lembrou que o menino chegou a morar com Lula temporariamente para
fazer companhia após a morte de Marisa Letícia.
Ao deixar o crematório após
a saída de Lula, o ex-prefeito Fernando Haddad classificou o momento como
"muito difícil" e de "dor profunda". Disse ainda que sente
a dor por ser pai. Haddad disse que Lula é muito forte, mas que "tem que
cuidar e acompanhar sua saúde" após um baque como esse.
SAÍDA
É a primeira vez que Lula
visita seu reduto político depois que foi preso, em abril do ano passado. Ele
deixou a superintendência da PF apenas duas vezes, para prestar depoimentos no
prédio da Justiça Federal do Paraná.
O deputado federal Eduardo
Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, comentou em tom crítico
na sexta-feira a autorização dada ao petista. "Lula é preso comum e
deveria estar num presídio comum. Quando o parente de outro preso morrer ele
também será escoltado pela PF para o enterro? Absurdo até se cogitar isso, só
deixa o larápio em voga posando de coitado", escreveu no Twitter.
Neste sábado, disse:
"Perguntado se Lula deveria sair da cadeia respondi que não –até por uma
questão de isonomia com os demais presos. Agora, sobre a morte da criança é
óbvio que é um fato lamentável e indesejável. Isso independe de ideologia. Não
misturem as coisas."
A saída da prisão foi
autorizada pela juíza Carolina Lebbos, responsável pela execução penal de Lula,
nesta sexta-feira. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal também se
manifestaram favoravelmente à decisão. Os detalhes da segurança e do
deslocamento do ex-presidente, no entanto, foram mantidos sob sigilo para "preservar
a intimidade da família e garantir não apenas a integridade do preso, mas a
segurança pública", segundo informou a Justiça Federal do Paraná.
Neste sábado, poucos
assessores acompanharam a saída do petista, do lado de fora da PF. No horário
de partida do helicóptero, não havia militantes na Vigília Lula Livre, montada
em frente à PF desde que o ex-presidente foi preso, em abril do ano passado.
Os militantes decidiram não
organizar atos de apoio para dar condições à saída do petista. Por volta das
9h, cerca de 30 pessoas que fazem parte da Vigília Lula Livre realizaram um ato
menor, cantaram "força, Lula", e fizeram um minuto de silêncio em
homenagem ao neto do político.
* Com informações da Folhapress.
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